Seja bem vindo, "só não se perca ao entrar em meu infinito particular"

04 julho, 2005

O que ficou do meu Pai...

O que me ficou do meu pai?
meu jeito, que é o dele;
ficou o meu horror ao cigarro
ficou a minha desconfiança a bebida,
ficou o amor pelo mar
ficou a admiração por carros

Ele,
foi justo e injusto
foi amoroso e foi rude
foi o pai mais babão e o pai mais rigoroso
ele se foi cedo demais

Isso ele me deve,
o avô para meus filhos.
o conselho que não posso pedir.
as brigas que a gente não vai ter.
as brigas nas quais a gente iria se unir contra alguém
brigando de tanto que a gente se parecia
brigando de tanto que éramos diferentes.

O que ficou dele?
nenhuma imagem gravada.
algumas fotos
uma foto dele doente no sofá da sala.

mas eu não gosto de falar da doença dele.
gosto dele forte, voz alta, tomando um cafezinho
rondando pelo quintal de casa as 5 da manhã
ou sentado na pedra do portão

menino grande, meu pai.
menino grande, que morreu de repente, sem envelhecer.
menino grande de coração grande,
capaz de muito amor,
capaz de muita tristeza, muita alegria, muito segredo.
mas um menino grande, meu pai, de quem lembro o tempo todo
e por quem eu chorei pouco, se comparar o choro à saudade entalada na garganta.

Meire

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